sexta-feira, 15 de maio de 2015

Missa das Andorinhas na 5ª.Feira da Ascensão – Cabanas de Torres - Alenquer


Em Cabanas de Torres, na 5ª.feira da Ascensão, à 1 hora da tarde, celebra-se a chama...da Missa das Andorinhas, uma tradição centenária, ou talvez milenar, cujo tempo e significado se perderam na memória dos mais velhos.
Resta perguntar: Porquê este ritual?
Que relação haverá entre as andorinhas que são libertadas no final da Missa e enquanto se celebra a adoração do Santíssimo, e a ascensão de Jesus ao céu que se celebra neste dia?

No catolicismo, a ascensão de Cristo ao céu significa a sua participação, na sua humanidade, no poder e autoridade de Deus e a Festa da Ascensão é uma das grandes festas do calendário litúrgico. O dia da Ascensão é tradicionalmente comemorado numa quinta-feira, o quadragésimo dia após a Páscoa. Porém, em algumas províncias católicas romanas mudaram a data para o domingo seguinte mas a festa tem o mesmo “status” das festas da Paixão, da Páscoa e do Pentecostes.
Em Cabanas de Torres, o Sr.Padre referiu esta tradição como significando o dar graças a Deus por toda a criação e pela importância que todos os seres têm para a vida e para Deus.

Mas porquê as andorinhas?
A andorinha simboliza a esperança, a boa sorte, o amor, a fertilidade, a luz, a ressurreição, a pureza, a primavera, a metamorfose, a renovação.
E a ascensão de Cristo, assim como todo o tempo pascal, não nos ensina e transmite tudo isso também?
A andorinha é conhecida como a "ave da partida e do regresso", pois migra no inverno e retorna no verão, muitas vezes ao mesmo ninho.
Será que esta tradição não nos convida a meditar sobre a nossa própria vida e que estamos sempre a tempo de “regressar” ao caminho do bem, se por um infeliz acaso nos desviamos dele?

Mas outra tradição acontece neste dia, a tradição de “apanhar a espiga” em que num passeio, regra geral de manhã, se colhem espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga.
Este ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada e só deve ser substituído por um novo no dia da espiga do ano seguinte.

E ainda outra questão se coloca neste dia, o porquê de ser chamado também de “dia da hora”.
Era chamado o dia da hora porque havia uma hora, o meio-dia, em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". Era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e também se colhiam as ervas medicinais. Em dias de trovoadas queimava-se um pouco da espiga no fogo da lareira para afastar os raios.
Curioso é pensar que, muito possivelmente, haverá uma relação entre esta hora “em que tudo parava” e o facto da Missa das Andorinhas ser sempre, segundo me disseram, celebrada à 1 hora da tarde.

Já agora, deixo aqui também a simbologia de cada uma das plantas do ramo de espiga:
• Espiga – pão;
• Malmequer – ouro e prata;
• Papoila – amor e vida;
• Oliveira – azeite e paz; luz;
• Videira – vinho e alegria
• Alecrim – saúde e força.

E para o próximo ano, se Deus quiser, irei de novo à Missa das Andorinhas, em Cabanas de Torres, uma belíssima e típica terra do Concelho de Alenquer.

Maria Eugénia Ponte - 14 de maio de 2015
© ao abrigo dos direitos de autor.
(fotos de Fernando ferreira)



Posteriormente à publicação do meu "post" sobre a Missa das Andorinhas, o amigo Inácio Alexandre da Silva, de Abrigada, deu um esclarecimento precioso que agradeço e partilho:

Este ritual está registado na pedra do reservatório de agua dentro da sacristia. Pedra esta que segundo o que já consegui apurar ( e tem dado muito trabalho de pesquisa) é anterior à data da actual igreja, é de origem romana tendo resistido à ocupação árabe e faria parte de um outro local de culto substitutivo entretanto por esta igreja em honra de São Gregório Magno, Papa entre 3 de Setembro de 590 e sua morte, em 12 de Março de 604. Foi considerado por Calvino, que o admirava, como " o ultimo bom Papa". A data da construção da igreja actual é de 1568 e já sofreu diversas remodelações. O meu avô materno, Jorge Aires Alexandre foi lá sacristão, depois de Cabanas de Torres deixar de pertencer à paróquia do Montejunto e depois à da Aldeia Galega da Merceana. Conclusão, ainda a região do Montejunto não era Portugal já o ritual existia e festejava algo que a igreja acabou por adaptar naquela paróquia, único local onde se pratica. Deixo aqui a foto do marco de pedra com o respectivo registo.

Também o meu amigo de longa data, Artur Nobre, da Paúla, deu mais esclarecimentos sobre o assunto:

Segundo ouvi dizer a pessoas antigas cá da terra ( Paula ) existiu num local algures entre Paula e Cabanas de Torres um povoado. Essa tese assenta em artefactos encontrados ao longo dos tempos, possivelmente essa pedra pode ter sido encontrada nesse local. Também há uma lenda segundo a qual a atual igreja de Cabanas de Torres, terá sido mandada edificar por uma senhora a quem uma filha foi curada pela agua de uma fonte Santa existente na subida da agua santa. Essa senhora prometeu construir uma igreja em que do altar se avistasse a fonte onde nascia a agua milagrosa.

Muito obrigada, Inácio e Artur...