domingo, 17 de agosto de 2008
A "Praça dos Homens"...
Aos Domingos, os homens da terra reuniam-se na chamada “praça dos homens”.
Então, os trabalhadores rurais submetiam-se ao ritual da escolha e ajuste de jorna para a semana seguinte. Muitas vezes, a minha mãe me contava histórias desse tempo em que o meu avô ou o meu pai íam “ajustar” os trabalhadores e me relatava a espécie de jogo em que os patrões disputavam os melhores trabalhadores.
Recordo até que, na altura, manifestei a opinião de que era uma situação estranha, era como se se tratasse de uma espécie de “aluguer” de escravos e a minha mãe me fez ver que até era uma coisa boa tanto para o patrão como para o trabalhador.
Ela explicava-me que, no fundo, os trabalhadores melhores eram os mais valorizados e os mais fracos eram, assim, incentivados para serem melhores.
Enfim... uma tradição que sei não ser apenas da zona de Alenquer mas que achei curiosa estar retratada neste painel de azulejo junto ao cruzamento do Carregado.
Aqui vos deixo, então, um apontamento desta tradição da minha terra...
sexta-feira, 21 de março de 2008
Tradição de Sexta-Feira Santa...
Hoje, Sexta-Feira Santa, recordei uma tradição antiga da zona do Carregado e do nosso vizinho concelho de Azambuja.
Dada a proximidade com as margens do Tejo e o dever religioso de fazer jejum e abstinência, as familias passavam este dia santo a pescar e comiam aquilo que conseguiam pescar.
Pensava que esta tradição, que os meus pais me relataram, se tinha perdido no tempo mas hoje lembrei-me de ir verificar.
Fui até junto ao Tejo e, para minha alegria, verifiquei que esta tradição ainda se mantinha.
Encontrámos, eu e o meu marido, várias familias a preparar os grelhados para o seu almoço de Sexta-Feira Santa.
Conversámos com algumas, fotografámos e eu fiquei emocionada com uma delas, por sinal do Carregado, que preparava um prato que faz parte das minhas recordações de juventude, o Torricado. O meu pai fazia um torricado delicioso que eu adorava... vieram-me lágrimas aos olhos ao recordá-lo.
O Torricado é um prato típico desta região, tradicionalmente associado ao trabalho do campo, especialmente dos trabalhadores vitícolas.
Consiste numa forma prática de cozinhar o pão, torrando-o e untando-o de azeite e alho, de forma a acompanhar bacalhau assado ou sardinha assada.
Este prato tem a sua origem nos camponeses que tinham de se ausentar de casa por alguns dias, pois nem sempre as suas terras ficavam ao pé das suas residências.
Este facto obrigava-os a ter de fazer um "farnel", e como naquela altura era difícil conservar a comida, tinham de levar algo que não se estragasse.
Deixo aqui alguns apontamentos desta tradição e do meu passeio de hoje de manhã.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Fábrica de Lanificios Chemina...
Fundada por uma sociedade em comandita, a COMPANHIA DE LANIFÍCIOS DA CHEMINA ficou a dever-se à iniciativa dos irmãos José Joaquim e Salomão dos Santos Guerra, depois gerentes do estabelecimento.
Com projecto de José Juvêncio da Silva – que também projectou os Paços do Concelho - começou a edificar-se em Abril de 1889, em terrenos da antiga quinta ou Casal da Chemina, de onde adoptou o nome.
Foi inaugurada em Junho de 1890.
Pouco tempo depois empregava 200 operários de ambos os sexos e fabricava, entre outros produtos, xales, casimiras, castorinas, cintas, barretes e cobertores.
Ao contrário das fábricas suas contemporâneas, opta apenas pela força de uma máquina de vapor, quando a sua situação, junto do rio, lhe poderia proporcionar o uso do sistema hidráulico.
Pouco tempo mais tarde a sociedade proprietária transforma-se em sociedade anónima.
Boa parte do capital está nas mãos de industriais e banqueiros do Porto, como Cândido Ribeiro da Silva e Carlos José Alves.
José e Salomão Guerra, para além de gerentes da fábrica, asseguravam a chefia das secções de acabamento e tecelagem.
Antes da fundação da Chemina, haviam exercido idênticos lugares nas fábricas da Romeira e “do Meio”, razão porque terão deixado a sua terra de origem, Arrentela, concelho do Seixal, outro importante centro de produção de lanifícios.
Meio século depois da fundação, em 1940, a FÁBRICA DE LANIFÍCIOS DA CHEMINA, S.A.R.L., continua a fabricar os mesmos produtos.
Tem sede no Porto, na Rua Formosa, e a gerência está ainda confiada a um Guerra, Isidoro de Castro Guerra, sobrinho dos fundadores.
Mas em 1948 é já outra empresa que explora o estabelecimento.
Chama-se então FÁBRICA BARROS, LDA..
Por pouco tempo.
Entre 1949 e 1952 permanece fechada, até que se forma outra empresa que a adquire: a EMPRESA LANIFÍCIOS TEJO, LDA., que a reequipa e põe a funcionar.
Em 1977 emprega 160 trabalhadores.
Em 1994, à beira do fecho definitivo, ocupando apenas parte dos edifícios, emprega apenas 15 a 20 operários.
Em 2000, o edifício principal sofreu um violento incêndio e ainda se encontra, infelizmente, num estado de decadência que me faz sentir pena cada vez que olho o edificio em ruinas.
Os prédios são hoje propriedade municipal.
Espero que o municipio encontre maneira de reconstruir e reaproveitar este belo edificio praticamente no centro da vila...
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