domingo, 16 de dezembro de 2007

O Presépio de Alenquer...

Alenquer é conhecida por “Vila Presépio” e deve isso ao presépio que desde 1968 é montado no ermo da colina que constitui a denominada "vila alta".
Com cerca de 20 peças, algumas de 6 metros de altura, representativas das figuras bíblicas, desde o Menino, Maria, José e Reis Magos, até aos pastorinhos com seus animais, devidamente orientados por dois anjos da guarda, o presépio constitui um dos ex-líbris da vila, em tempo de Natal.

Surgiu no âmbito de um conjunto significativo de benfeitorias levadas a cabo na sequência das dramáticas cheias de Novembro de 1967, que deixaram de luto e em ruína a zona ribeirinha da vila.
Estas cheias de 1967 foram a maior catástrofe natural que alguma vez se abateu sobre Alenquer. As águas chegaram a atingir mais de 3 metros de altura e os mortos atingiram a meia centena.
Foi um tempo de tragédia mas também de imensa solidariedade.
Esqueceram-se desavenças familiares, conflitos entre vizinhos, classes sociais e tudo o resto.
Todos se uniram em torno do mesmo objectivo, resgatar Alenquer da lama e dos destroços.
Chegaram a ser cerca de 3 mil pessoas a trabalhar nas operações de limpeza e recuperação.
Foi a maior onda de solidariedade em Alenquer.

Este presépio de Alenquer é o simbolo do amor e da união que despontou entre os alenquerenses e é isso que o faz tão especial.
Não se trata de uma acção de promoção, de marketing turistico, como alguns possam pensar, mas sim de um simbolo de solidariedade e Amor ao próximo.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

A 1ª.linha férrea em Portugal...



Em 28 de Outubro de 1856, inaugurou-se o caminho de ferro de Portugal, com a 1ª linha férrea de Lisboa ao Carregado.

Desta inauguração transcrevo uma passagem do livro de memórias da Marquesa de Rio Maior (que à data era ainda criança ):

”Vou narrar o que me lembra do solene dia da inauguração que, enfim, chegou. Minha mãe não quis ir ao banquete do Carregado. Mas foi comigo para um cerro fronteiro à estação de Alhandra ver a passagem do comboio (….). Finalmente, avistámos ao longe um fumozinho branco, na frente de uma fita escura que lembrava uma serpente a avançar devagarinho. Era o comboio ? Quando se aproximou, vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. O comboio parou por um momento na estação, de onde se ergueram girândolas estrondosas de foguetes (...).Só no dia seguinte ouvimos o meu pai contar as várias peripécias dessa jornada de inauguração. A máquina (...) não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram; e fora-as largando pelo caminho. Creio que se o Carregado fosse mais longe e a manter-se uma tal proporção, chegava lá a máquina sozinha ou parte dela. (...) Meu pai passou para a carruagem real, na qual chegou ao Carregado, onde assistiu aos festejos e comeu lautamente, porque o banquete era farto ".

Com esta inauguração, a máquina a vapor substitui as faluas do Tejo, e, gradualmente, os serviços regulares das carreiras da mala-posta.
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Esta é a estação do Carregado – Alenquer (Vala do Carregado) em que ainda se vê o edificio da estação, do lado direito, e que actualmente se encontra fechado, e a linha original que penso também já estar desactivada.
Quando lá fui fotografar (há anos que não passava por ali) estava completamente deserta.
Verifiquei que tudo estava mais moderno, o ir à bilheteira foi substituido por uma maquineta em que se coloca a moeda e sai o bilhete e, finalmente, uma voz gravada anuncia a chegada deste comboio e lá desceram uns passageiros.
Curiosamente, estava uma senhora a observar junto da velha estação, talvez a recordar tempos passados...

domingo, 2 de setembro de 2007

Pelo caminho da Estrada da Mala-Posta...


Seguindo a minha viagem no tempo, passei pela minha aldeia e pela minha casa mas não parei e fui à procura do marco seguinte, na estrada que vai dar ao Camarnal e onde podemos entrar de novo na estrada nacional, na direcção de Caldas da Rainha ou Leiria.

Não fui tão longe porque depressa cheguei ao meu destino e, na estrada da Várzea, parei de novo junto ao segundo marco, para o fotografar, admirar e tentar ler as palavras nele gravadas.
Penso que consegui “decifrar” correctamente e aqui vos deixo a inscrição:



DONA MARIA PRIMEIRA

RAINHA FIDELISSIMA DE PORTUGAL

NOSSA SENHORA

PIA.JUSTA.MEMORAVEL.

PARA UTILIDADE PUBLICA

MANDOU DEMARCAR COM ESTE PADRAO

AS LEGOAS DA CIDADE DE LISBOA

CAPITAL DO REINO PARA A PROVINCIA

COM DISTANCIAS DE TRES MIL

OUTOCENTOS E QUATRO PASSOS

GEOMETRICOS

SENDO INSPECTOR GERAL DAS ESTRADAS

REAIS E OBRAS PUBLICAS DE RIBATEJO

DOM JOSE LUIZ DE MENEZES

CONDE DE VALLADARES

NO ANNO DE M.DCC.LXXX.VIII.

UM DECIMO DESTE FELICISSIMO REINADO



Fiquei por ali algum tempo e resolvi voltar para trás mas, se tivesse seguido mais um pouco poderia apreciar a entrada da Quinta da Bemposta, local onde em tempos longinquos os cavalos e os viajantes descansavam.

Por vezes, porque a noite se aproximava, pernoitavam na estação e seguiam viagem de madrugada cedo porque os perigos eram muitos e as viagens eram bem mais dificeis naqueles tempos.

Carregado - Marco de Caminhos...


Vamos sair da vila de Alenquer para dar um salto à maior freguesia do concelho (em numero de habitantes), a freguesia do Carregado.
Nó central de eixos viários, desde os primórdios, (1ª linha dos caminhos de ferro, Lisboa - Carregado); cruzamento da Estrada Real Lisboa - Caldas da Rainha e Lisboa - Santarém, bem como pólo fluvial importante através do rio Tejo, desde Lisboa às Portas de Ródão, o Carregado continua hoje a sua tradição de nó central das linhas viárias que cruzam o País.
Esse facto está registado, como não podia deixar de ser na heraldica da freguesia em que o elemento central é “o marco de caminhos”.

Hoje de manhã, resolvi seguir o caminho de dois desses marcos até porque a meia distancia entre eles se encontra a minha casa, numa pequena aldeia com o nome de Obras Novas, com pouco mais de 300 habitantes.
Saindo do Carregado na direcção de Santarém, fiz uma paragem no primeiro para o fotografar e recordei os meus tempos de escola em que esperava a camioneta junto a esse marco que actualmente está num local mais elevado do que estava na época. Com a construção do autoestada (A1) a estrada nacional foi rebaixada e o marco ficou, por isso, isolado lá no alto, passando despercebido aos mais desatentos.
Nele se pode ver a indicação de “Estrada que se derige a Santarem Ano de 1788” do lado voltado para a estrada nacional e, de outro “Estrada de vem das Caldas da Rainha”. Esta indicação leva-nos a crer que esta estrada, possivelmente construída em cima de antigos caminhos romanos, já funcionava muito antes de 1850, ano a que se atribui o inicio da construção da Estrada Real entre Lisboa e Caldas da Rainha, passando por Carregado, Alenquer e Ota.
Por essa estrada, os passageiros e o correio seguiam em deligências de 6 lugares, puxadas por 4 cavalos e o preço de uma passagem entre o Carregado e Ota, com direito a 33 arráteis de bagagem (cerca de 15 Kg) era de 720 réis em primeira classe e 480 em segunda.

Foi por essa estrada que segui, a antiga Estrada da Mala-Posta, não numa “deligência” mas no meu carro... os tempos são outros mas, com um pouco de imaginação, retrocedi “um pouco” no tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Convento de Nª.Srª.da Conceição...


Na encosta entre a Igreja de S. Francisco e a de S. Pedro, existem ainda grandes porções de altos muros, que formavam as paredes de vedação de uma cerca de grande superfície onde no seu interior estava edificado um Convento de Freiras da Ordem de Santa Clara, de invocação de Nª Sª da Conceição.

Podemos admirar ainda o bloco arquitectónico de forma cilindrica com pequena abóboda, que talvez correspondesse à Capela-Mór daquele Convento.
Uma extensa parede ainda bem conservada, serve de vedação da área do quartel da GNR de Alenquer; e outros grandes bocados de muros, que quase se confundem com muralhas, são visíveis em outros locais, e até uma parte deles está a ser "reconstruída" ou a beneficiar de obras de reforço, o que é bom de registar.

O Convento foi fundado em 1553, por João Gomes de Carvalho, que foi fidalgo da Casa d'El-Rei D.João III, e que se julga ter sido mestre notável em letras, na Universidade de Coimbra.

Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834, os Conventos entraram em decadência e em ruína, passando a maioria deles ao Estado e à posse de privados.
Em 1860 a Cerca e casario do Convento passou para as mãos de Mr. Auguste Lafaurie, o fundador da Fábrica do Meio, que também já não existe.
Parece que ele, e o irmão, que se terá suicidado, foram sepultados ainda na zona da Capela-Mór do Convento.
Passou depois a propriedade para a sua filha D. Maria Carolina Augusta Lafaurie, mas em 1889 foi posta em venda em praça pública.
O domínio útil foi adquirido por João Marques de Sousa Ramalho e o domínio directo por António Ferreira Campos, que anos depois também comprou o domínio útil.
O século XX já lá vai, e hoje essa Cerca com o que resta do Convento, possuindo ainda e também algumas casas-dependências, que servem de habitações, continua a constituir propriedade privada.
Poderá a vir possivelmente a ser objecto de reconversão, no futuro, esperando que o seu actual proprietário concorde em preservar o bloco cilindrico ou octogonal, com pequena cúpula, que talvez seja uma boa parte da capela-mór que resistiu no grande decurso de quase quinhentos anos.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Divino Espirito Santo - o Bodo...


As festas do Divino Espirito Santo têm o seu final com o Bodo.
Saindo da Igreja em cortejo, percorrem as ruas da terra e, no final, todos os participantes depositam as coroas, ofertas e bandeiras num recinto escolhido para o efeito.
As ofertas de sopa, pão e vinho são distribuidas pelos presentes, depois de abençoadas.
Os irmãos recebem-nas e todas as pessoas que passam podem livremente servir-se de pão, sopa e vinho.
Neste ano de 2007, a tradição antiga foi adaptada o mais possivel e foi bonito de ver a confraternização no final do cortejo.
Nem o tempo cinzento conseguiu tirar o sorriso dos rostos das pessoas que se envolveram e trabalharam assim como nas pessoas que, cada qual à sua maneira, deram o seu contributo para as festas, mesmo que tenha siso apenas com a sua presença, como foi o meu caso.
Damião de Goes, por volta do ano de 1570 ofereceu à Igreja do Espirito Santo, entre outros bens, órgãos de som para substituirem os que havia e mal funcionavam e ainda uma mesa grande de mármore onde se partisse a carne dos touros que se distribuia no bodo e uns bordos de madeira de fora, para fazer-se bancos onde se pusesse o pão para ser benzido.
Este ano, fui tudo muito mais simples mas a sopa da pedra que foi distribuida pelos presentes estava deliciosa e bem quentinha, mesmo a calhar porque o fim da tarde estava fresco e a chuva miudinha ameaçava voltar.
Que esta iniciativa se repita para o ano e que continue, sempre cada vez com mais empenho e entusiasmo.

Divino Espirito Santo - as celebrações do seu culto...


Em domingo de Páscoa saía da Igreja do Espírito Santo, a bandeira da Irmandade, levada por um homem nobre.
Um menino, filho das famílias principais da terra, caminhava entre duas jovens, levando na mão uma espada antiga curta, que a tradição dizia ser de D.Dinis.
Atrás vinha um homem nobre seguido do capelão da Casa do Espírito Santo, com uma corôa de prata dourada sobre uma salva, também, de prata.Chegada a procissão à Igreja de S.Francisco esse homem nobre é coroado pelo sacerdote vestido de capa de asperges e depois as duas jovens dançavam com quatro homens nobres à vista do homem coroado que sentado debaixo de um docel, fazia a figura de imperador.

Doce, fruta, vinho e água, quanto sómente baste era consumida nesta cerimónia, feita no átrio deste templo.
Repetia-se este ritual todos os domingos até ao sábado de Espírito Santo (ou seja ao 7º domingo depois da Páscoa.
Nesse sábado, véspera do domingo do Espírito Santo, ia o imperador acompanhado dos religiosos de S.Francisco e de todo o clero, até à Igreja de Triana, onde feita a oração, continuava a procissão de regresso e a recolher na Igreja do Espírito Santo e aqui benziam-se muitas merendeiras e carne que se repartia pelo povo.
Como prova de grande riqueza e fama desta Confraria em Alenquer, sabe-se que entre 1520 e 1577 entraram 1052 confrades novos a somar aos já existentes.
Entre eles encontravam-se muitos dos nomes mais nobres e antigos, como por exemplo Damião de Goes, Afonso de Albuquerque, Pedro de Alcaçova Carneiro, Francisco Carneiro, D. Pedro de Noronha, D. Leão de Noronha, a condessa de Linhares, D. Isabel de Lencastre, Lopo Vaz Vogado, D. Manuel de Portugal, Manuel Gouveia, Lançarote Gomes Godinho e muitas outras personalidades.